Marcas de brinquedos reeditam produtos e lucram com nostalgia

Marcas de brinquedos reeditam produtos e lucram com nostalgia

Jogos de tabuleiros que divertiram gerações aumentam as vendas dos fabricantes na era dos eletrônicos

Mesmo cercada pela tecnologia, a estudante Yhara Linka, de 25 anos, é uma apaixonada por jogos de tabuleiros, que usa como uma boa desculpa para reunir amigos em casa semanalmente. Mas ela não precisa recorrer a nenhum baú da vovó para viabilizar as rodadas semanais de nostalgia. Jogos de tabuleiro e outros brinquedos do passado estão de volta às prateleiras das lojas. Para enfrentar a concorrência da tecnologia, fabricantes recorrem aos próprios portfólios e reeditam sucessos que marcaram gerações, impulsionando uma onda retrô na indústria de brinquedos. Tabuleiro"Eu cresci vendo as pessoas brincando com jogos de tabuleiro. Apesar de ter tido convivência com videogames e jogos online, o fato de ter contato com as partes físicas do jogo e poder reunir amigos para jogar faz muita diferença para mim", conta Yhara, que tem em casa versões renovadas de títulos consagrados como War, Perfil e Banco Imobiliário. Já o bom e velho quebra-cabeças é uma das diversões preferidas de Guilherme Neves, de 5 anos. Apesar de ficar vidrado em jogos online e vídeos na internet, o desafio de montar com as próprias mãos peça a peça de um mosaico é o que mais diverte o menino. "Ele logo larga os outros brinquedos quando o chamo para montar os quebra-cabeças. Já sabe montar todos o que tem e mesmo assim quer montar de novo e de novo", conta a comerciante Aline Neves, mãe de Guilherme, que comemora a volta de brinquedos desse tipo às lojas. "Acaba sendo uma brincadeira que nos aproxima mais no fim de um dia corrido de trabalho." Até 20% do faturamento A reedição de brinquedos à moda antiga já responde por parcela significativa das vendas de algumas marcas, em um mercado que faturou R$ 6,3 bilhões no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). A tradicional fabricante de brinquedos Estrela, por exemplo, tem hoje entre 15% e 20% do seu faturamento de brinquedos antigos. A marca foi a responsável por títulos de sucesso como Jogo da Vida, Banco Imobiliário, Pula-Pirata e Cara a Cara nos anos 1980. Todos estão nas prateleiras, com direito a atualizações no design ou a incorporação de inovações. Um relançamento por ano A empresa tem no portfólio atual cerca de 30 itens lançados antes dos anos 2000 que estão no mercado até hoje ou foram reinseridos. Diante do sucesso da linha retrô, a Estrela adotou como estratégia relançar um clássico todos os anos. O item de 2018 ainda é segredo, mas no ano passado a empresa trouxe de volta o lendário Falcon. No lançamento, o boneco de ação esgotou em redes como Ri Happy e Toy Boy. Uma das vantagens dos relançamentos para as marcas é que o investimento em moldes e peças para a fabricação dos produtos já foi feito, reduzindo os custos. Além disso, são brinquedos cujas estratégias de marketing já foram testadas no mercado, ainda que demandem adaptações. "Não saímos do zero", define o diretor de marketing da Estrela, Aires José Leal. "Também contamos com a cumplicidade dos pais, tios e avós que tiveram esses brinquedos na infância e agora ficam felizes em poder reproduzir a experiência com crianças da família." No segmento de tabuleiro, outros clássicos que voltaram a fazer sucesso são os jogos Perfil e o de estratégia War, além de Can Can (cartas) e Quest (perguntas e respostas), todos no repertório da Grow desde os anos 1970. Maior fabricante de puzzle no Brasil, a marca investe em personagens infantis para atrair o interesse da criançada. Juntos, os jogos da linha retrô e os quebra-cabeças somam 38% do faturamento da Grow, número que vem crescendo nos últimos três anos, diz o diretor de marketing da marca, João Nagano: "Esse número alto mostra que os brinquedos tradicionais são os únicos que permitem a convivência com outras pessoas. Na internet, a gente não tem essa sensação." Aplicativo substitui cartas Aliar tradição e inovação é uma das estratégias para fazer brinquedos criados há muito tempo sobreviverem no mercado. Alguns jogos de tabuleiro incorporaram tecnologias, mas com o cuidado de não perder a essência original. Banco Imobiliário e Jogo da Vida, por exemplo, têm agora máquinas de cartão de crédito para atualizar a brincadeira, que antes contava apenas com cédulas de dinheiro. Já o Detetive conta com um aplicativo que envia pistas para os smartphones dos jogadores, que antes só podiam se guiar pelas cartas. Já a Hasbro mantém nas prateleiras o Monopoly e o Twister praticamente do jeito que foram lançados, respectivamente em 1935 e 1967. O Twister, que é quase acrobático, é atualmente o terceiro jogo mais vendido no Brasil. Quem também resiste às inovações há mais de quatro décadas é o Playmobil. Os bonequinhos famosos pelo tamanho pequeno e sorriso desenhado no rosto foram reintroduzidos em 2008 pela Sunny, que já tem 10% do seu faturamento só com a linha clássica dessa marca. "O Playmobil é uma de nossas principais linhas de produtos, mesmo mantendo as características originais desde sua criação. Atrai até hoje todas as gerações", conta a diretora de marketing da Sunny, Sharon Czitrom. Uma pesquisa sobre tendências de consumo da consultoria Euromonitor feita em 2016 captou mudanças comportamentais como uma insatisfação crescente com o isolamento e o excesso de informação do mundo virtual. Para Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da PUC-SP, esse sentimento abre oportunidades para a indústria de brinquedos oferecer experiências de maior socialização e que estimulem a imaginação: "Alguns jogos antigos eram inclusive réplicas da vida da época, daí a sua magia". O coordenador do MBA de Estratégias e Ciências do Consumo da ESPM-Rio, Eduardo França, concorda que transformar as crianças em participantes de um processo é outra vantagem dos brinquedos antigos que atraem os pais e impulsionam vendas. "Jogos e brinquedos manuais estimulam a criatividade, enquanto os tecnológicos estimulam a lógica", observa.] Fonte: ÉPOCA Negócios

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